A performance de Portugal no “mercado ibérico” tem de ser vista em termos do impacto no PIB e no rendimento nacional, focando todas as atenções na competitividade e na quota de mercado dos produtos e serviços portugueses. Mais precisamente, trata-se de aumentar as exportações para Espanha, de cativar os turistas espanhóis e de atrair investimento produtivo espanhol para Portugal
A Espanha tornou-se no nosso maior fornecedor, com cerca de 30 por cento das nossas importações e é também o nosso maior cliente, com 30 por cento das nossas exportações.
No entanto, o défice comercial Portugal-Espanha tem-se agravado, representando 5,0 por cento do PIB português em 2004. Para a Espanha, Portugal é apenas o 3º mercado europeu em termos de exportações, depois da França e da Alemanha, mas o primeiro em termos do saldo comercial, que acresce 1,0 por cento ao PIB espanhol.
O défice comercial
A taxa de cobertura do comércio de mercadorias que era superior a 58 por cento em 1991, desceu abaixo de 40 por cento em 2001, mas recuperou para 47 por cento até 2004. Esta degradação era previsível já em 1986, dado o impacto das economias de escala na afectação dos benefícios de uma união alfandegária. No entanto, é urgente tomar medidas para reforçar a recente inversão que é sobretudo conjuntural e que tem a ver com o diferencial de crescimento. Considerando a dimensão do mercado espanhol, quatro vezes maior que Portugal em população e seis vezes maior em compras, as exportações portuguesas continuam muito aquém do potencial.
O turismo pouco contribui para compensar este défice comercial, apesar do volume de turistas espanhóis ser cerca de quatro vezes o de turistas portugueses em Espanha.
O contributo do investimento directo também sofre de algumas assimetrias estruturais. O que importa para o PIB é a atraccão de importantes investimentos espanhóis de raiz que possam contribuir para o valor acrescentado nacional. Mas os investimentos “greenfield” escasseiam entre 3.000 empresas com capital espanhol em Portugal. Estas consistem mais em aquisições no sector financeiro e de distribuidoras e comercializadoras de produtos espanhóis.
O investimento directo português em Espanha pode ser “instrumental” para fomentar mais exportações e criar mais valor acrescentado nacional ao acercar os nossos produtores cada vez mais do consumidor espanhol. Satisfazer melhor o cliente espanhol não tem que implicar a deslocalização da produção para Espanha. Segundo o ICEP Madrid, os negócios portugueses em Espanha são maioritariamente B2B e caracterizados pela subcontratação ou a venda através de agentes e distribuidores locais que controlam o acesso ao cliente final. Seria importante investir a longo prazo, para fazer chegar as marcas e as mensagens dos fornecedores portugueses directamente aos consumidores espanhóis, através de redes de distribuição próprias.
Algumas empresas já investiram em produtos, marcas e redes comerciais apropriadas para o mercado espanhol. Mais interessante ainda é a experiência de agregação sectorial dos exportadores para ganhar massa critica e economias de escala. O êxito comercial em Espanha tem de ser visto como a prova real para os produtos ou serviços portugueses com ambição internacional. Assim, um bom conhecimento do mercado espanhol, em toda a sua exigência e complexidade, pode ser o principal determinante de sucesso a longo prazo. Seria caso para perguntar, onde está El Corte Inglês português?
... E do conhecimento do mercado
O êxito comercial das exportações espanholas em Portugal baseia-se num forte conhecimento do mercado português. Neste domínio de marketing internacional, os espanhóis aproveitam e optimizam as economias de escala, recorrendo aos apoios do ICEX e às suas associações empresariais, câmaras de comércio e universidades. Para os fornecedores portugueses, as (des)economias de escala são ainda mais determinantes nos estudos de mercado, na criação de marcas e redes de distribuição e logística e na recolha e tratamento de informação de clientes. Este investimento no grande mercado espanhol pode ser colectivo, pelo menos a nível sectorial. Os maiores rivais no mercado doméstico necessitam de colaborar fora de portas.
Tal como acontece a alguns outros países pequenos, Portugal tem um vizinho mais rico, mais dinâmico, mais pujante e muito maior. Reconhecendo que não é fácil penetrar o mercado espanhol, cabe-nos alinhar esforços e mobilizar energias para conquistar esse mercado. Isto exige um forte empenho desde a formação nas universidades, ao ICEP, às empresas, aos bancos, e sobretudo às associações empresariais. É urgente tornar a ameaça numa oportunidade, começando por conhecer melhor o cliente espanhol para vender mais em Espanha.
Mariana Abrantes de Sousa, economista
2005
16 fevereiro 2007
Governo chinês vai apoiar investimento em Portugal
O governo chinês vai encorajar as empresas chinesas a investir nos sectores de ponta da indústria portuguesa, como tecnologias de informação, segundo revelou a "Nova China", agência noticiosa oficial chinesa. Durante um encontro com José Sócrates, um alto responsável do "PCC" (Partido Comunista Chinês) referiu que espera que o "PCC" e o "Partido Socialista Português" possam reforçar os intercâmbios e a cooperação. Este revelou que o governo chinês vai apoiar empresas chinesas que desejem investir em Portugal nos sectores da logística, tecnologias de informação e nas indústrias automóvel e electrónica. Por outro lado, o primeiro-ministro chinês assegurou que a China está empenhada em aprofundar as relações comerciais e económicas com Portugal. Os responsáveis dos ministérios das Finanças da China e de Portugal assinaram um memorando de entendimento para abertura de uma linha de crédito de 300 milhões de euros com vista a apoiar exportações portuguesas para o mercado chinês e que envolverá a Caixa Geral de Depósitos e o Banco da China. A linha de crédito destina-se sobretudo a contribuir para importações chinesas de bens de equipamento portugueses. O primeiro-ministro português apelou entretanto à constituição de parcerias empresariais luso-chinesas, para que se opere em conjunto nos mercados dos países africanos de expressão portuguesa e no Brasil. O apelo do primeiro-ministro foi feito durante a abertura do Fórum de Cooperação Empresarial entre Portugal e China 2007 e na cerimónia de lançamento da Archway - uma empresa de direito chinês detida pela Portugal Telecom e por uma firma dependente do Ministério das Comunicações da China.
Mais do que uma ameaça, a China é, hoje, uma oportunidade de mercado para as empresas portuguesas com bons produtos, imagem de marca e agilidade. À excepção de alguns sectores-chave, já não é necessário estabelecer uma «joint-venture» para entrar no mercado chinês, mas encontrar um importador ou um parceiro que conheça bem o mercado e os canais de distribuição. Os chineses querem produtos competitivos e fazer dinheiro de uma forma rápida.
Com a Missão China o governo português pretende reforçar os laços económicos e políticos entre os dois países, promovendo igualmente o aumento das exportações nacionais e a captação de um maior volume de investimento chinês.
Fonte: "Agência Lusa"/"Jornal SOL", 1 de Fevereiro de 2007.
05 fevereiro 2007
China versus Índia
Ao investigar as causas do maior dinamismo da economia chinesa, cujo PIB cresceu 9,7% a.a. no período 1993-2004 versus apenas 6,5% a.a.na Índia, alguns analistas referem a maior rigidez do mercado de trabalho indiano e o menor aumento de produtividade, especialmente no sector industrial.
No entanto, as diferenças entre as fábricas serão menores do que entre os sistemas de distribuição de produtos indianos e chineses. Estes últimos beneficiam de uma forte rede de distribuição de “lojas chinesas” em praticamente todo o mundo, com o apoio logístico e o patrocínio dos órgãos oficiais chineses.
Se a Índia e outros países querem acompanhar o ritmo de crescimento da China, terão certamente de estudar e imitar a sua logística de distribuição e a sua capacidade comercial.
E a capacidade de marketing dos chineses não deve ser subestimada. Quando as primeiras vitórias da Selecção Portuguesa no EURO 2004 fizeram esgotar os stocks de bandeiras nacionais, foram as “lojas chinesas” que vieram acudir ao surto de nacionalismo provocado pelo Figo, o Cristiano Ronaldo e os outros craques de Scolari.
Mas algo se perdeu na tradução dos símbolos nacionais, e os castelos lusitanos passaram a ter um ar mais de pagodes...
Ver artigo The Economist, 27-Jan-07, pg 70
No entanto, as diferenças entre as fábricas serão menores do que entre os sistemas de distribuição de produtos indianos e chineses. Estes últimos beneficiam de uma forte rede de distribuição de “lojas chinesas” em praticamente todo o mundo, com o apoio logístico e o patrocínio dos órgãos oficiais chineses.
Se a Índia e outros países querem acompanhar o ritmo de crescimento da China, terão certamente de estudar e imitar a sua logística de distribuição e a sua capacidade comercial.
E a capacidade de marketing dos chineses não deve ser subestimada. Quando as primeiras vitórias da Selecção Portuguesa no EURO 2004 fizeram esgotar os stocks de bandeiras nacionais, foram as “lojas chinesas” que vieram acudir ao surto de nacionalismo provocado pelo Figo, o Cristiano Ronaldo e os outros craques de Scolari.
Mas algo se perdeu na tradução dos símbolos nacionais, e os castelos lusitanos passaram a ter um ar mais de pagodes...
Ver artigo The Economist, 27-Jan-07, pg 70
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